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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Pilotagem - CURVAS: Contra-esterço - Olhar - Negociação

    Um dos maiores desafios na pilotagem de uma motocicleta é conduzi-la corretamente em curvas, sejam elas de baixa ou alta velocidade.  
Para facilitar o entendimento desse “post”, tomei como base motocicletas Harley Davidson “Custom”  rodando em estradas asfaltadas  (embora o princípio seja válido para qualquer moto) em velocidades acima de 25 km/h.  Existem vários aspectos que devem ser considerados numa curva; tais como redução de velocidade, posição do corpo, piso, etc tratados exaustivamente em outros "posts" por vários de vocês. Correndo o risco de me tornar repetitivo volto ao tema concentrando-me em três daqueles que julgo os mais importantes:
CONTRA-ESTERÇO
     Sem que saibamos o que é o contra-esterço e como ele atua corremos sérios riscos de acidentes.
Esterço é o movimento de guidon que fazemos para executar uma curva. E porque contra ? Como o próprio nome diz, para fazer uma curva para a DIREITA temos que, delicadamente, esterçar o guidon para a ESQUERDA ! Parece uma loucura mas não é, trata-se tão somente da física atuando com o chamado efeito giroscópico. Para ficar mais claro, existe um teste muito simples que pode ser feito com dois copos de vidro ou de plástico. Pegue dois copos idênticos, cujas bocas sejam maiores do que os fundos e coloque-os com as bocas encostadas uma na outra. Prenda os copos nessa posição usando fita durex ou isolante. Colocando os copos presos sobre uma superfície plana você verá que o meio é mais alto do que as extremidades tal qual o pneu dianteiro da moto. Quando a moto esta em linha reta ela vai se apoiar exatamente no meio (onde os copos estão fixados). Gire os copos para a esquerda (como se estivesse girando o guidon)  encostando  o copo da direita na mesa (a moto se apoia na lateral do pneu nas curvas), agora com a palma da mão empurre o copo que esta apoiado na mesa para a frente: embora ele esteja virado para a esquerda ele vai girar para a DIREITA !
     Como é que até hoje eu fazia as curvas com a minha moto sem perceber que estava fazendo isso ?   INSTINTO.  Pilotagem de moto é altamente instintiva e falaremos disso mais à frente. No caso do contra-esterço é fundamental que o utilizemos conscientemente  e a nosso favor, evitando situações como a experimentada por mim em meados de 2009.  Eu estava descendo a serra de Petrópolis quando, no viaduto que antecede o primeiro túnel, me vi mais rápido que minha competência permitia. Fiz quase tudo errado: toquinhos no freio da frente e tapinhas no freio traseiro de nada adiantaram, cada vez mais eu me aproximava do limite da pista. Já em pânico pensei: “-tenho que girar mais o guidon para a esquerda” , ou seja fiz exatamente o contrário pois a curva era para a esquerda e eu não sabia absolutamente nada de contra-esterço. O anjo da guarda tomou o guidon das minhas mãos e conseguiu fazer a curva. Passei a um dedo  (do Lula) da mureta do viaduto.
Se você ainda não acredita no tal de contra-esterço, pegue sua moto e vá para uma avenida larga e sem movimento e a 40 Km/h empurre a manete da direita delicadamente para a frente. A moto vai se inclinar para a direita e vai começar a curvar para o mesmo lado.

OLHAR    
A motocicleta vai para onde você olha.  Muita gente se acidenta em uma curva ao fixar o olhar no acostamento, no guard-rail, no carro ou na moto que vem em sentido contrário ou naquele que está a seu lado.
Nas fotos abaixo observe para onde está voltada a cabeça do piloto e a direção que a moto está tomando:






Na sequencia abaixo o piloto, ao fixar o olhar no carro, desistiu da curva, tirou a inclinação da moto e foi atraido para ele como se fora um imã. Bastaria tão somente olhar para o ponto de saída da curva e contra-esterçar com vontade, o espaço era suficiente para evitar o acidente








Repare que na primeira foto a moto está inclinada mas não no limite, significando que poderia contra-esterçar ainda mais. Porém, a partir do momento em que o componente OLHAR se desviou da SOLUÇÃO e passou a se fixar no PROBLEMA (o carro), o nosso amigo piloto desistiu da curva, tirou a inclinação da moto, provavelmente usou o freio de forma errada e totalmente desequilibrado em cima da moto caminhou como um boi caminha para o matadouro. Provávelmente a culpa foi atribuida aos malditos pneus Dunlop.  Abaixo o resto da sequência. Tomem a árvore como referência e reparem que o carro chegou a parar !







(fotos cortesia Killboy.com e Jim Miller Photography)


 Lembre-se, olhar para onde você quer que a moto vá é a SOLUÇÂO, olhar para obstáculos é o PROBLEMA, olhe sempre para a SOLUÇÂO, jamais para o PROBLEMA.




Seu olhar tem que ser como a luz do farol, ele não deve se fixar em nenhum ponto e sim avançar 2 ou 3 segundos à frente, para onde voce quer que a moto vá. Não desvie jamais o olhar do seu objetivo, especialmente no meio de uma curva.Quando a curva pemitir olhe para onde você quer  o seu ponto de saída.  Combinar o olhar com o contra-esterço, além de resultar em curvas redondas, reduz drasticamente os riscos de acidentes.




NEGOCIANDO A ENTRADA DA CURVA
Para aproveitar ao máximo o espaço disponível e com isso aumentar o raio da curva facilitando o seu contorno, nosso ponto de entrada é o lado externo da curva, isto é: se a curva é para a direita o ponto de entrada será o extremo esquerdo da pista de rolamento. No meio da curva está o ponto de tangência no extremo à direita. O ponto de saída, nesse caso, será no  extremo à esquerda da pista de rolamento. Desenhando num pedaço de papel fica mais fácil de entender. Sempre que possível, visualizar o ponto de tangência da curva e fazer a entrada no lado oposto ao mesmo. Isto é, se o ponto de tangência está à sua esquerda você faz a entrada de curva no limite à direita e vice-versa.

A velocidade de entrada na curva é fundamental para que ela seja feita da forma mais eficiente e segura possível. É preferível reduzir a marcha e entrar em uma velocidade mais baixa com o motor "cheio" e acelerar gradualmente a entrar numa velocidade alta e ter necessidade de reduzi-la "dentro" da curva. Na primeira situação - velocidade mais baixa - o conjunto de movimentos será harmonioso, já no segundo caso - velocidade excessiva - voce vai ter muito mais trabalho para contrariar o comportamento da moto  (mais velocidade = menos inclinação = maior dificuldade de reduzir velocidade = maior dificuldade de passar no ponto de tangência desejado).



A importancia de subir as rotações do motor antes de entrar na curva (através da redução de marcha)   é para sua utilização como "freio motor" caso necessário. Jamais use os freios dianteiro ou traseiro dentro de uma curva. Basta fechar a manete de aceleração que a moto reduzirá e inclinará ainda mais, ajudando na curva. É muito mais seguro entrar em uma curva desconhecida reduzindo para uma marcha mais baixa, com motor "esgoelando", do que entrar "solto" em uma marcha alta.


Outra providencia em curvas mais rápidas é transferir o centro de gravidade para o mais próximo do solo, para isso basta deixar de preguiça e passar o peso do corpo para a pedaleira/plataforma do lado interno da curva aliviando a bunda no banco. Nas tourings isso é um santo remédio para acabar com as pequenas reboladas.


E uma recomendação que poderá salvar sua vida: JAMAIS DESISTA DE UMA CURVA DEPOIS DE INICIADA, a partir do momento em que voce tomou sua decisão vá até o fim. Se entrou rápido demais, feche a manete de aceleração e incline a moto mantendo o olhar para o ponto de saída da curva, sem se preocupar com a pedaleira raspando no chão e, principalmente, SEM OLHAR para os obstáculos: carros em sentido contrário, guard-rails, caminhão ao seu lado, acostamento, etc...Fixe o olhar no seu objetivo e acredite que voce conseguirá.   


Existe uma forma de fazer uma frenagem de emergencia em uma curva utilizando o freio dianteiro no seu limite. Além de exigir muito treino é fundamental que a negociação da entrada da curva tenha sido feita de forma adequada. Se você perceber que a velocidade está muito além do permitido pela curva e não tiver condições de usar o freio motor, retire a inclinação da moto, colocando-a em pé com o guidom reto e aplique o freio dianteiro com vontade sem deixar a roda bloquear e antes de passar para a pista contrária, solte o freio, contra-esterce com vontade e continue na curva.  Isso parece difícil, e é, mas lembre-se que se a negociação da curva foi bem feita a perpendicular que vai do ponto de tangencia até o limite do ponto de saída lhe proporciona alguns bons metros que podem ser a diferença entre cair ou retomar a curva, agora em velocidade mais baixa.
TREINO     Não adianta encontrarmos culpados para os sustos e acidentes que sofremos, vestirmos verdadeiras armaduras medievais para pilotar se não fizermos o fundamental: praticar. É a melhor maneira de criar memória em nossos músculos e neurônios das ações que pretendemos transformar em reflexos. .

Vale a pena estabelecer um programa de treinamento com colegas, escolher um local seguro, levar uma trena, fazer marcações e começar treinando frenagens de emergencia, primeiro a 40 km/h , depois a 60 km/h e assim sucessivamente. Garanto que muitos de nós ainda não vimos o pneu dianteiro de nossas motos bloquearem. É melhor descobrir em treinamentos e saber como proceder do que numa situação real. Até mesmo frenagens de mergencia em curvas podem e devem ser praticadas , utilize um local sem transito e simule curvas com frenagens no meio e continuação da curva, primeiro em velocidades baixas 40, 50 Km/h. Depois em estradas sem movimento, simule a 70/ 80 km/h. Garanto que os dividendos valem a pena.


Hélio Rodrigues Silva   22/11/2010

20 comentários:

Fernando FMGJ disse...

Ótimo post Hélio, obrigado por compartilhar suas experiências. Forte abraço.
Fernando Q.I.

Helio R. Silva disse...

Grande Fernando,
valeu meu amigo, obrigado. Um grande abraço.
Hélio

Anônimo disse...

Hélio, muito obrigado pelos ensinamentos. É o que de melhor já li sobre pilotagem em curvas. Esta leitura recomendarei sempre. Abraço, Anibal de Biase - Brasilia/DF

Anônimo disse...

Caro Hélio. Cheguei até o seu blog por recomendação feita pelo blog do Wolfmann. Gostei demais das dicas. Quanto ao contra-esterço nas curvas, nunca senti a necessidade, pois costumo entrar nas mesmas sempre em velocidade adequada para cada tipo delas. Quanto às outras dicas (olhar, entrada em curvas, etc.) concordo plenamente com elas e as tenho utilizado sempre. E concordo também contigo quanto à dica de sempre treinar. É treinando que se fixam os conceitos e as técnicas. É isso aí; parabéns pelo blog, obrigado pelas dicas compartilhadas e um grande abraço.
Cezar Ribeiro
cezarfr__@hotmail.com

Helio R. Silva disse...

Grande Anibal,
obrigado pelas palavras. Um grande abraço na turma de Brasília, em especial do "Custom Club Comichão".
Hélio

Helio R. Silva disse...

Grande Cezar,
valeu pela força. É isso aí, vamos continuar treinando para não dar chance ao azar.
Grande abraço.
Hélio

Jerônimo (jeje) disse...

Caro Hélio. Também cheguei até o seu blog por recomendação feita pelo blog do Wolfmann.
Excelentes dicas, parabéns. Jerônimo (jeje)

Helio Rodrigues Silva disse...

Prezado Jeronimo_jeje,

Obrigado pelas palavras, elas são um estimulo para continuarmos a pesquisar, aprender e divulgar tecnicas de pilotagem que possam ajudar a todos.
Grande abraço,

Anônimo disse...

Dicas muito uteis, eu as utilizo muito. E alem delas tambem facl o pendulo nas curvas, ajuda bastante.
Grande abraco.
Adalberto.

Helio Rodrigues Silva disse...

Prezado Anônimo,

obrigado pelas palavras e desculpe a demora na resposta mas é isso mesmo, utilizemos todos os recursos para não dar chance a acidentes.
Grande abraço.
Hélio

Anônimo disse...

Ótimo artigo! Porém, numa custom, como colocar o peso na pedaleira? Como conseguir apoio com a perna esticada? Como tirar a bunda do assento sem apoio? É minha maior dificultade com ela, pois venho de moto trail, onde até se pode colocar todo o peso de um só lado; ou numa só pedaleira; ou ficar em pé; abaixar centro de gravidade; etc. É uma das coisas que não estou gostando na custom. Não estou "gozando" não.
Heritage Classic

Helio R. Silva disse...

Prezado Anonimo,

Obrigado pelas palavras e por apresentar as dificuldades que voce encontrou. No meu caso, meço 1,75m e tenho uma HD touring com a plataforma na posição original assim como o banco. Consigo pilotar sentado e com as pernas flexionadas com um bom apoio nas plataformas permitindo até mesmo que eu fique de pé. Isto para mim é de fundamental importancia pois além de permitir colocar peso na pedaleira, permite que eu me levante do banco ao passar em velocidade por algum obstáculo evitando que o banco me lance para o alto pois os joelhos flexionarão absorvendo todo o impacto do solavanco. Naturalmente que a altura do piloto, a posição da pedaleira, do banco e a regulagem do guidom podem interferir e até mesmo impossibilitar o procedimento.
Um grande abraço,
Hélio.

Anônimo disse...

Caro Hélio, agradeço a sua atenção. Quando diz que tem uma HD touring, a qual modelo se refere, por favor?

Unknown disse...

Amigo estas suas dicas deveria ser lidas impressa e levado no bolso de todo motociclista, para poder re-ler sempre.

Helio R. Silva disse...

Prezado Anônimo,

desculpe a demora em responder mas realmente não percebi sua pergunta. Os modelos chamados de touring são a Road King e a Electra Glide em suas variantes: custom, classic, Ultra, etc...
Grande abraço,
Hélio

Helio R. Silva disse...

Grande Pablo,

obrigado pelas palavras que são um estimulo para que continue pesquisando e buscando informações para todos nós motociclistas.

Grande abraço,

Hélio

Anônimo disse...

Otimas dicas, parabéns pelo texto mto bem elaborado e que visa ajudar outros motociclistas independente de valores (cash), em suma agradeço o seu tempo investido para o bem comum, abraços. BUELL XB9SX Kim BH.

Helio R. Silva disse...

Obrigado Kim, é sempre gratificante saber que de alguma forma conseguimos passar alguma coisa de util para um irmão motociclista. Na realidade, este tipo de reconhecimento, para mim, tem muito mais valor do que qualquer soma em $$$$.
Grande abraço.

Anônimo disse...

Caro Hélio
Em seu artigo Negociando a Entrada na Curva, vc diz: ...se a negociação foi bem feita (,) a PERPENDICULAR que vai do ponto de tangência até o limite do ponto de saída...
Como 'perpendicular é qualquer configuração geométrica cuja interseção com outra forma um ângulo reto', pelo que eu posso entender, o que vai do ponto de tangência até o limite do ponto de saída é UMA LINHA RETA. aandriolo@hotmail.com.br

Helio R. Silva disse...

Exatamente mas lembre-se de que você está usando um procedimento que, por exigir um forte acionamento do freio dianteiro, só pode ser executado com a moto sem inclinação e com o guidon reto (em uma reta). Isso permitirá reduzir a velocidade até o nível em que a curva possa ser retomada ou até mesmo parar a moto.

Relembrando:
"Se você perceber que a velocidade está muito além do permitido pela curva e não tiver condições de usar o freio motor, retire a inclinação da moto, colocando-a em pé com o guidom reto e aplique o freio dianteiro com vontade sem deixar a roda bloquear e antes de passar para a pista contrária, solte o freio, contra-esterce com vontade e continue na curva. ".

Obrigado pela colaboração e espero ter esclarecido a dúvida.