TOTAL DE VISUALIZAÇÕES

terça-feira, 10 de junho de 2014

AS 15 MELHORES ROTAS DOS USA - 6



A HELÔ ME DÁ UM SUSTO
Mountain City (TN) - Bristol (VA)
10 junho 2014

Hoje pela manhã, após um desjejum mixuruca, deitei a Helô no estacionamento do hotel e abri a janela de inspeção na tampa da primária Isso porque venho desconfiando de um chiado que ocorre de vez em quando. Vi que a corrente da primária estava com uma baita folga.




Não consegui apertar pois eu não tinha chave de caixa 9/16. Fechei novamente, procurei uma loja, comprei a chave mas preferi ir a uma oficina que havia visto nas paginas amarelas. Chegando lá, falei com o mecânico que precisava apertar o esticador da corrente da primária. Ele, cheio de má vontade, veio com a desculpa que não tinha a junta da tampa da primária. Expliquei a ele que não precisava tirar a tampa pois o serviço poderia ser feito através da janela de inspeção. Ele deu um sorriso de pouco caso e disse que eu não sabia o que estava falando, como se eu fosse um imbecil (na maioria das vezes até sou mesmo mas hoje eu estava num dia de exceção). Fiquei com mais raiva ainda por saber fazer o trabalho. Só recorri a ele, em benefício da minha coluna, que ja estava em chamas. O fato é que fiquei tão puto que tombei a Helô para fazer o trabalho e ele veio correndo que nem um veadinho achando que ela tinha caído. 



Inocente.....sabe de nada. Ai foi a hora de tio Helio deitar os cabelos. Em 10 minutos a corrente já estava ajustada e a moto de pé, levantada orgulhosamente por mim, utilizando a técnica correta e sob os olhares espantados do cretino de quem recusei ajuda. Bundão........mal sabe ele dos meus tempos de mecânico na Paissandu !

Ferramentas arrumadas vagarosamente, entremeando generosos goles d' água enquanto esperava os batimentos cardíacos voltarem a um ritmo civilizado. Aproveitei para tirar um último sarro com o bestalhão: perguntei a direção da tal de "The Snake". Claro que eu já sabia mas foi bom para ele ver que o velhote é um coxinha abusado.


UM DESAFIO CHAMADO " THE SNAKE "

Embora eu não seja um fervoroso seguidor de guias e catálogos, esse trecho da 421 é um dos mais badalados no meio motociclistico. Realmente ele reune características que o tornam um verdadeiro parque de diversões para quem gosta de motos. Vejam só: atravessa a Cherokee National Forest, cruza duas montanhas, cortas os dois vales formados por elas (Shaddy Valley e Holston Valley) e ainda por cima contorna um lago ao seu final. 
A parte gostosa, no entanto, é o seu traçado com curvas de todos os tipos, subindo e descendo. Complementado por uma pavimentação excelente e com curvas compensadas (mais alta na parte externa). 
O problema (ou o gostoso) é que são curvas quase que em sequência. E são muitas curvas exigindo muita "mão de obra". Você não tem tempo para relaxar. Apesar da sinalização ajudar um bocado, na maioria das vezes você não tem noção do que o espera ao entrar numa curva. Por isso, toda a atenção é necessária, qualquer descuido as coisas se complicam terrivelmente, até por que não existe guard-rail e a topografia é semelhante ao Rabo do Dragão, barranco de um lado ribanceira do outro. Não dá para fazer presepada. Tem que respeitar, principalmente em dias como o de hoje em que não havia movimento quase nenhum. Cruzei apenas com duas motos (juntas) e o Michael e Cris (mais à frente vocês saberão quem são) que iam na mesma direção. Se caio numa ribanceira daquelas ninguém vai descobrir..... Mas a velocidade em que fui, poupando a pobre Helo, deixou a companhia de seguros bem tranquila....

                                       








COUNTRY STORE - SHADY VALLEY 

Na descida da primeira montanha, a mais difícil, a gente se depara com um vale tranquilo, quase que totalmente despovoado, à exceção de uma meia duzia de ranchos esparsos. Na metade do vale, à direita, uma placa que é o marco da The Snake. Ao lado, um empório, ao entrarmos temos certeza de estar voltando uns 2 séculos no tempo.






O tal de Country Store vende de tudo, roupas, pedras semi-preciosa, cocares de indios, CDs de musica country, sanduiches, tira-gostos diversos, cervejas, pilhas, ingressos para o metrô, enfim, uma loucura total mas tudo isto em um clima daqueles saloons do velho oeste. A decoração é de uma cafonice gloriosa com balanças, caixa registradora e até as garçonetes do inicio do seculo passado. Só não tirei fotos porque a bateria da máquina estava indo pro saco. Mas terei que voltar por aqui e tiro as fotos que fiquei devendo. Vai valer a pena, o lugar é imperdível. Lembrei de meu sobrinho Mario Coutinho quando vi uma bomba de gasolina antiquíssima no meio do salão. Uma hora a gente descola uma.


Essa foto, no marco da The Snake, é uma tradição e no meu caso, além do orgulho, serviu para lembrar-me daqueles que de alguma forma ajudaram a realiza-la: Mario Coutinho, Rodrigo De Rezende Cabral, Leozinho, Fernando Tanure, Cyro Franca, Dotô Badá da Lapa, Chick (Ride Like a Pro de LA), os instrutores do MSF (Virginia e Colorado) e muitos outros que a memoria, já pegando no tranco, me deixa na mão.





COINCIDÊNCIAS QUE, SEM PROVAS, DIRÃO QUE E' MENTIRA.

Como acabei de receber um e-mail do Michael e respondi enviando as fotos para ele e a Cris (e melhorei da enxaqueca) achei que voces teriam o direito de compartilhar dessa incrível coincidência. Como falei antes, tive que fazer a tal de The Snake com cuidado para não forçar a Helô. Nada de reduzidas, giros muito altos, etc... Mas a danada da estrada é tão bonita que resolvi parar e fazer umas fotos para vocês. Eu estava terminando a atividade quando ouço u'a moto, algumas curvas abaixo, subindo e seu piloto tirava tudo que o motor tinha pra dar. Era uma beleza "ouvir" o trabalho do piloto reduzindo, fazendo a curva e acelerando na retomada. Daria tempo de sair na frente dele mas resolvi ficar e fazer uma foto daquele "solista", além do mais o ritmo em que eu estava acabaria por prejudica-lo. Quando a moto apontou na curva, esperei um pouco até ela ficar no enquadramento que eu queria e cliquei torcendo para dar certo. No momento em que eles iam passando por nós (eu e a Helô), a mulher que ia na garupa quase que ficou em pé, com os braços bem abertos e exclamou: "- Brasileiro !", e isso num perfeito português....


Descobrir que tinha brasileiro na parada foi fácil pois o auri-verde pendão está devidamente preso na bolsa traseira da Helô. Mais tarde, na tradicional parada no empório que é um point da "Snake", encontrei os dois: ele americano,pilotando uma Victory, e ela brasileira de São Paulo.




Batemos um papo, ela feliz por poder falar português (eu idém) ele sem entender nada. No final trocamos e-mails, ele acabou de me escrever e eu repondi enviando as fotos. Ou o mundo está ficando cada vez menor ou os brasileiros estão se espalhando por ele. Ou os dois.

HOJE NÃO VAI DAR.
Bristol (VA) - 10 junho 2014



Aos amigos e colegas que acompanham as insanidades que posto aqui minhas desculpas mas não tenho cabeça no momento para escrever nada além deste post. 
Ontem ao chegar em Mountain City já havia percebido um barulho estranho na Helô. Hoje pela manhã abri a janela de inspeção da tampa da primaria e vi que a corrente estava muito frouxa. Fiz o aperto e melhorou alguma coisa, como só tinha um dealer da HD em Bristol, a 34 milhas e pelo tal de "The Snake", não tive alternativa senão seguir em frente pilotando da forma mais conservadora possível. Consegui chegar e levei a moto na HD e o técnico acha ( e eu também já desconfiava) que o esticador da corrente dos eixos de cames (comando de válvulas) foi para o vinagre. Além disso, estrago poderia ter sido grande, a ponto de condenar o motor. Eles me trouxeram para o hotel, foram super atenciosos, e amanhã vão desmontar o motor para ver a extensão do dano e entrar em contato comigo. Enquanto isso ficarei aguardando no hotel.
O duro foi sair da HD e deixar a Helô para trás.......

De qualquer forma, nessas horas lembro sempre de um ditado de um cabo velho com quem servi na Força Aérea: "Um artista não se impressiona com facilidade !". Até hoje não sei que merda é essa mas é meu grito de guerra.... deve ser algo como "a gente enverga mas não quebra".




A VONTADE DE DAR UMA "ADUBADA" NA VIDA E' CONSTANTE !
Bristol (VA) - 11 junho 2014

Acordei com a arrumadeira batendo na porta e só então me dei conta da hora. Dormi pra caramba após as "bombas" que tomei para a enxaqueca (provavelmente a PA foi para a estratosfera). Tomei um banho, renovei a diaria do hotel e ao sair vi, do outro lado da rua, uma agência de carros usados. Na mesma hora o diabinho começou a soprar no ouvido: "-E se o conserto da Helô ficar mais caro do que seu próprio valor ?". Pensei um pouco e admito que isso é uma possibilidade, embora o valor de uma pessoa motociclistica como a Helô não deva ser considerado sob essa ótica jamais. De qualquer forma, curioso que sou, atravessei a rua (fora da faixa, claro) e vi 4 carros com o capô aberto: 3 deles (Honda, Jeta e Toyota) com aqueles motorezinhos homo-afetivos de 4 cilindros. Nem olhei para eles e fui direto no carro de gente grande, um Cadillac 1995 cupê. Confesso que não me recordo de ter visto Cadillac de 2 portas. O carro está inteiro, ao nível de exigência do Mario Coutinho. O estofamento é de couro claro, o banco do motorista esta com bastante desgaste na lateral esquerda (local onde a pessoa se apoia para entrar e sair) e alguns outros detalhes que desaparecem quando você ouve os 8 cilindros em V falando mais alto. O Jonathan (dono da agência e que já ficou meu chapa) fez questão de tirar o carro e coloca-lo em uma posição mais nobre (longe daqueles carros com motorzinhos de dentista). O porta malas do danado dá para transportar uns 6 fugitivos. As portas fecham tão bem que, com vento favorável, dá para ir navegando com ele até Cuba. Na volta é só aproveitar e fazer um frete para Miami e cobrar 1a. classe.









A SAGA VAI CONTINUAR
Bristol (VA) - 11 junho 2014


Recebi um e-mail do chefe da oficina informando-me que as peças vitais do motor, com exceção do eixo comando de válvulas, não foram afetadas. O trabalho pode estar concluido até sexta-feira (será que eles vão parar amanhã para o jogo do Brasil ?). Combinamos de aproveitar a mão de obra e fazer um upgrade colocando os tensionadores hidráulicos, que equipam as versões mais novas, e uma bomba de óleo mais possante. Vou morrer numa graninha sentida mas encaro como um investimento em quem jamais me deixou na mão. Até para ter um chilique esperou chegar dentro de uma oficina Harley Davidson após carregar-me através de vales, desertos e montanhas, sob chuva ou sob o sol inclemente. Poucas, aliás nenhuma, faria isso por mim, e certamente exigiriam uma pensão escorchante




HELÔ, PARABÉNS PELO DIA DE HOJE !
Dia dos Namorados - 12 junho 2014



Nosso relacionamento tem sido maravilhoso, onde você mostra uma enorme dedicação, levando-me ao mundo dos sonhos, não importando os caminhos, o frio ou o calor. Desafiando a fisica em muitas situações e aproveitando-se dela em outras, tudo para criar em mim a ilusão de um grande piloto. Que despreendimento, que nobreza de caráter que eu, confesso, não conseguiria ter. Helô, minha nobre e fiel namorada, vamos continuar nossa caminhada rumo ao horizonte da forma que você me ensinou: cruzando estradas construídas pelas mãos humanas mas que, por suas artes e mágicas, me aproximam do Criador.





A GRANDE DÚVIDA: TORÇO PARA O BRASIL OU PARA ARGENTINA ?
Bristol (VA) - 12 junho 2014


Após constatar que 99% dos canais americanos estavam passado uma emocionante partida de golf, eis que acho um tal de 92 que estava televisionando o jogo do Brasil. Naturalmente decorei o quarto (onde estou confinado, por ordem dos filhos e de um Cadillac- mas isso é outra historia). Como ia dizendo, decorei o quarto da melhor forma possivel usando o meu já lendário bom gosto. Porém uma decisão deveria ser tomada: TORCER PARA QUEM ? 
Confesso que estava balançado pela Arrentina, principalmente por declarar-me macanudo após situações vexatórias. Cheguei a comprar uma camisa da gloriosa seleção porteña. Acontece que quando aqueles côrnos de amarelo entram em campo a coisa complica e para evitar a tal de arritimia busquei auxilio no senado romano. Até por que soube que eles aceitavam representantes da classe dos equinos, quem sabe eles estendessem o beneplácito para a dos muares ? 

E assim foi que, envergando minha túnica senatorial, apresentei-me aos ínclitos senadores de Roma e expus meus argumentos. Antes que eu terminasse minha peroração (nem sei que porra é esta), o côrno do Neymar, arranca da intermediaria, dá um chute mascado de canhota, o goleiro ajuda, a trave idém e eu jogo camisas e túnicas para cima e me pego gritando: "-Brasillllllllll, nos somos fodaaaaaaa, chuuuuuuupa Joseph Blatter, o mundo mais uma vez se curva ante o Brasil. Felasdaputas, etc, etc.". Só parei quando o segurança esmurrava a porta.

Pronto, a escolha estava feita....






A CAMINHO DA BLUE RIDGE PARKWAY.
Bristol (VA) - Mountain City (TN) - Asheville NC)
14 junho 2014


Hoje pela manhã recebo o telefonema do chefe da oficina avisando que a Helô esta testada, lavada, com óleo trocado só esperando por mim. A HD mandou uma pick-up pegar-me por causa da bagagem. Após morrer nuns dólares que farão um rombo na herança dos garotos, fui ver a doce criatura. Só de ligar o motor percebi a mudança, nada daquela chiadeira que parecia ferro com ferro e, além disso, a trepidação do motor caiu uns 90% - os coxins estavam muito prejudicados e foram trocados. Arrumei a bagagem na Helô, e sai da HD por volta do meio dia. Fui até o centro da cidade, comi um bifão e fiz a digestão da maneira que mais gosto: pilotando a Helô. Caramba, parece outra moto, a impressão é que as válvulas estão abrindo e fechando completa e corretamente e parece que melhorou o desempenho da nobre parceira. Vou medir o consumo pois ela gastava mais do que amante argentina, uma base de 16 Km/l na estrada. Vamos ver agora. Peguei a estrada e parti em direcao à "The Snake", agora em sentido contrário. As reboladas de traseira práticamente desapareceram, o torque melhorou e ela subia e fazia curvas que era uma beleza. Claro que não me meti a gato mestre pois as ribanceiras são muito mais profundas dos que a do Rabo do Dragão, e o movimento muito menor, o risco de você não ser visto sofrendo um acidente é enorme, além disso, na minha idade colar ossos é um problema meio complicado. Assim, bailando com garbo, elegância e juizo, subimos e descemos a primeira montanha (a mais fácil), cortamos o Shady Valley e chegamos ao principal marco da Snake, o tal de "The Country Store". Seu proprietario é o David, um coroa gente boa que vive comendo enormes sanduiches (ele prepara o seu enquanto come o dele, acho até' que ele se engana algumas vezes e morde o do cliente). Quando ele soube que eu era brasileiro me falou que quase não aparece gente do Brasil por lá e pediu que eu colocasse um marco (um alfinete com cabeça verde) num mapa meio esculhambado que ele tem para registro. Mas faz parte do ritual, afinal o kit coxinha tem que ficar completo.











BLUE RIDGE PARKWAY - ESTRADA FEITA PARA MOTOCICLISTAS
14 junho 2014



Após concluir a "The Snake", atravessando a segunda montanha e chegando a Mountain City(TN) resolvi procurar a Blue Ridge Parkway e matar as saudades daquela que considero uma das mais lindas e perfeitas estradas para motos. Já percorri essa estrada de cabo a rabo (cerca de 500 milhas) umas 4 ou 5 vezes, nos dois sentidos. Nunca vou me cansar de desfrutar da paisagem, do clima, do astral e, principalmente, de pilotar uma Harley Davidson numa estrada que corre por cima de montanhas, onde o ar é mais puro, a temperatura amena, a flora exuberante, e a presença do Criador uma constante. 

Consegui pegar a Blue Ridge em Blowing Rock (NC). Engraçado que quando tive que passar pelo meio da cidade um carro emparelhou com a Helô no sinal, dentro um casal com um garotinho. A moça, que dirigia, olhou para mim e fez sinal de positivo. Achei até que não era comigo, então ela baixou o vidro e gritou: "- Brasil !" e me mandou um beijinho. Muito legal.

Peguei a Blue Ridge e comecei a curtir as curvas que se sucedem em todo o percurso. A sinalização é excelente mas você tem que tomar cuidado para não se distrair com a paisagem. Como a estrada corre pelo alto das montanhas Appalachian, tem momentos que você descortina vistas cinematográficas. Nesses casos sugiro parar nos locais apropriados para isso, já que a estrada não tem acostamento e é de mão dupla. No meu caso, eu paro mesmo, faço fotos de todos os ângulos, afinal é uma oportunidade de ouro registrar momentos tão marcantes.







Eu ia assim, parando, rodando, cumprimentando e sendo cumprimentado pelos irmãos motociclistas que cruzavam comigo. Num determinado momento, vi um grupo de umas 10 motos iguais paradas num mirante. Se eu tivesse certeza de que eram gringos teria parado pois sempre me recebem muito bem, porém o risco de serem brasileiros existia e nesse caso prefiro passar batido pois as decepções que tive com brasileiros que se dizem motociclistas me levaram a ficar longe deles. Claro que existem exceções, como os dois que encontrei cruzando o Novo Mexico no ano passado, os gaúchos na JP Cycle e principalmente a turma do Comichão de Brasília que fui encontrar em Milwaukee e rodei 2.000 Kms adicionais só para estar com eles mas essa é uma história que vou contar mais à frente. Paciência pois.

Impressionante como os gringos nos tratam bem e se colocam à disposição para qualquer eventualidade. Eles sabem que você esta sozinho e muito longe de casa, enquanto isso, conterrâneos seus, preferem que você fique distante do "grupinho" deles. Mas isso, apesar de me entristecer, não me afeta pois entendo que todos tem limites e honrar o "código da estrada" não é para qualquer um, tem que ser motociclista e não apenas se fantasiar como tal. Se um dia precisarem do tio Helio, estarei de pé e à ordem, seja quem for.

Bem, deixemos de lado essas coisas ridículas e voltemos ao nosso assunto. Hoje, como em todos os fins de semana, a Blue Ridge estava com o transito intenso com as motos e trikes predominando, especialmente as custom. Difícil ver alguém rodando sozinho, a quantidade de pessoas de idade acima dos 70 pilotando é enorme.


Muito comum também ver casais na casa dos 80 com uma Electra ou Goldwing puxando um reboquinho fazendo sua viagem de fim de semana. Esse respeito e valorização dos idosos faz parte da cultura americana. O idoso aqui não fica sentado em uma cadeira de balanço esperando sua hora, ele sai, se diverte, trabalha (e muito) , se associa a grupos, pilota motos (muitos) e por ai vai. Dá gosto de ver. Hoje quando cheguei no The Country Store, tinham umas 10 motos paradas na frente e seus pilotos sentados na varanda (a maioria tomando cerveja). O mais novo deveria ter mais de 75 anos, a maioria gordões, uns 2 com rabo de cavalo. Maneiríssimo, acho até que tinham dois dando um "tapinha" !

E foi assim, curtindo as curvas da Blue Ridge, cumprimentando irmãos motociclistas até a mão doer de tanto fazer o "wave", que cheguei ao "exit" que me levaria ao meu hotel em Asheville (NC). Um dos piores e mais caros em que me hospedei.





Bom para aprender a não confiar demais em fotos do site mas eu estava muito cansado para procurar outro. Amanhã tem mais.



sexta-feira, 6 de junho de 2014

AS 15 MELHORES ROTAS DOS USA - 5




Atualizando emplacamento sem DUDAs, despachantes e agendamentos.

Lugoff (SC) – Charlotte (NC) 

6 junho 2014 – 7 junho 2014






A Helô está com a placa da Virginia pois ainda não tive tempo de transferi-la para a Florida para onde mudei meu endereço.




Com isto, após pagar o licenciamento de 2014 via internet, quando ainda estava no Brasil, os selos de mês e ano do emplacamento foram enviados para a Florida. Selos colados na placa eu tinha até o dia 31 de maio passado para proceder à  Security Inspection anual, obrigatória na Virginia. Para evitar problemas resolvi subir até a Virginia e fazer a bendita inspeção na primeira cidade que encontrasse.


Acordei as 6 hs, banho rápido que não sou besta, roupa  separada e bagagem desde a véspera na Helô estacionada em frente ao meu quarto no pequeno hotel. 7 horas, já na estrada, a idéia era: "- Paro na primeira birosca que encontrar e como qualquer besteira até a hora de abastecer num 7-eleven da vida !". Mas vejam só, a primeira birosca que encontrei estava fechada e parece que desde a época da Guerra Civil.






O charme das pequenas cidades 

A alternativa foi seguir em frente e, sempre por estradas secundárias, procurar uma cidadezinha qualquer para fazer o desjejum. Dei sorte, encontrei Pageland (South Carolina), uma simpática cidade que parecia parada no tempo, não fossem os modernos carros em suas tranquilíssimas ruas. Verdade que são poucos carros, assim como deve ser sua população. Impossível não parar num lugar desses.






Entrei numa loja de ferragens e vi itens que apenas encontrei similar na hoje demolida Casa Telles em Visconde do Rio Branco. As paredes de tijolinhos vermelhos, os becos ligando uma rua à outra, o jardinzinho caprichado saudando o visitante abelhudo, o cumprimento educado de todos que cruzavam comigo, tudo isso ia me cativando e tornando mais difícil minha saída. 







Como foi bom me sentir nas gerais de minha infância. Que me perdoem os que curtem New York mas não troco essas cidadezinhas pela Big Apple jamais. Na realidade nunca deixei de ser um caipirão,  o que me aproxima muito dos aqui chamados "red necks", primos distantes dos nossos caipiras.
Antes de ir embora dei uma passada num antiquário onde a Helô ficou estacionada por cortesia da proprietária. Tinha milhares de itens para quem gosta de garimpar. Eu gosto mas me conhecendo eu provavelmente levaria o fogão na pobre da Helô
ou me enrolaria no aeroporto com uma espingarda nas costas....





Os imprevistos e os improvisos


Na saída de Pageland, ao ligar a moto o GPS se recusou a funcionar. Prometi à maluca do "Wrong Way" que não mais iria xingá-la mas não adiantou, o GPS continuou apagado.

Aqui prá nós, não sou muito ligado nessas modernidades mas uma viagem pelos States sem o GPS, apenas com um mapa, não quero voltar a repetir não. Desliguei a moto e percebi que o encaixe do fio do GPS, na tampa lateral da moto, estava frouxo, certamente fruto das vibrações da Helô. Tirei o alforje, o suporte de ferramentas que trago preso à frente do protetor do alforje, retirei a tampa e refiz o serviço, dando um aperto final tipo Angelim (meu irmão, que fechava a garrafa térmica pela manhã e ninguém mais tomava café durante o dia. Que saudades daquele sacana !).



Depois disso, tudo ia bem e "setei" o GPS com o endereço de uma Loja Maçônica em Charlotte que meu sobrinho recomendou muito devido a arquitetura do prédio. Como sempre, coloquei um endereço errado e fui parar em outra Loja



Mas no fim deu certo, estava um calor tremendo, o lugar, no meio de um condomínio lindo, era totalmente arborizado, o estacionamento vazio, e o GPS tinha parado novamente. Fui para a sombra, pedi luz à minha madrinha (a Senhora de Fátima) e como um expert, que sempre fez isso na vida, com um sorriso de desdém nos lábios, peguei o fio do GPS, abri o receptáculo do fuzível, constatei que ele estava bom e  esfreguei os dois lados do fuzível no cimento. Aproveitei e com uma chave de fenda pequena fiz uma limpeza no interior do receptáculo e pronto. Eis que, como num passe de mágica, o danado do GPS esta operacional novamente. Graças à luz recebida de minha madrinha e à energia do local. É como penso, é como ajo, é como vivo....


Curtindo o "NASCAR Hall of Fame"

Bem, como eu estava em Charlotte (NC), só me restava conhecer uma de suas maiores atrações: o "Nascar Hall of Fame" 








No momento em que cheguei começaram a estacionar vários carros no pátio externo, parece que para promover algum evento. O rugido do motor  da Ferrari F-40 ricocheteando nas estruturas de concreto dos prédios em volta parecia anunciar o Apocalipse. Coisa de louco.




Passei quase uma hora circulando e fotografando os carros, alguns “envelopados” de uma forma que denunciavam a origem árabe de seus proprietários.













Ao final da sessão de fotos resolvi morrer em alguns dólares e entrar no Nascar Hall of Fame. Trata-se de um programa imperdível para quem gosta de automóveis, mecânica e de um pouco da historia dos USA na década de 40. O que impressiona não é a quantidade de veículos e peças do acervo mas a forma como trataram a exposição, proporcionando uma interação com o publico que torna difícil sairmos de la.

Se você quiser testar suas habilidades numa troca de pneus, existe um box, com o carro, as ferramentas e todo o ambiente que, ao ser posto em ação, leva sua adrenalina para o ponto desejado. Você forma sua equipe com mais duas pessoas, ao sinal executa a troca (na realidade apenas tira os parafusos e torna a colocá-los) e tem o seu tempo medido. Aqui os três treinaram antes, definiram o que cada um faria tentaram ser o mais eficiente possível mas o resultado final foi 12 segundos. Vejam que não precisaram nem tirar a roda, era apenas soltar e apertar os parafusos...




Se você gosta de pilotar e quer saber como seria num oval, existem 8 carros em uma pista, você recebe as instruções de como pilotá-lo (pé direito no acelerador e esquerdo no freio, como nos karts), escolhe o carro, senta, ajusta o banco e ao ser dada a partida, "- Gentlemen, start engines !",  segue o carro madrinha por uma volta e depois começa a perceber que é muito mais complicado do que pensava. Mas vale a pena, a sensação é muito próxima da realidade.





Quem curte mecânica entra numa ala que é uma oficina com peças, ferramentas, motores, molas e tudo o que é usado em carro da Nascar.







Você pode ligar um motor no dinamômetro e levar a aceleração dele ao limite.  Não acreditei quando li mas como não tinha ninguém olhando liguei e levei a aceleração da goiaba ao máximo. Queria ver os pistões atropelando as válvulas e sair pedaços de biela pela chaminé, mas claro que eles colocam um limitador por causa de vândalos como eu. Mas que ia ser bonito la isso ia.





O inicio do tour é uma sessão de cinema contando a historia do surgimento da Nascar, entremeada com filmes da época. A gente fica sabendo que esta formula começou com os contrabandistas de whisky. Durante a Lei Sêca, para fugir dos carros da polícia, eles passaram a “envenenar”  os motores de seus carros. Por isso, um dos símbolos da Nascar é um garrafão de bebida.

Lendas de uma época








Corremos muitas vezes juntos, fugindo de Elliot Ness e seus rapazes. Algumas vezes eles ganhavam a maioria nós vencíamos. Afinal tínhamos a receita mágica: motores Ford com 8 cilindros em V, preparados por Tezauto da Vila da Penha....isso sem falar no Jack Daniels falsificado (um foguete).











Interior do carro oficina da Lowe's que patrocina um dos carros da Nascar. Limpeza absoluta. Quando lembro da garagem da Puma do meu filho Carlo, com papagaio, mijo do Chocolate, livros velhos, etc, concluo que ele jamais vai conseguir inscrever o Puma na Nascar...


Depois de curtir a bela cidade de Charlotte, uma boa noite de sono no primeiro Days-Inn que encontrei.






A caminho da Virginia

Charlotte (NC) – Whyteville (VA)
7 junho 2014 – 9 junho 2014

Acordei tarde já que não adiantava ter pressa, e coloquei a Helô na pista mais tarde ainda, afinal era sábado e eu teria que aguardar até segunda-feira para fazer a vistoria. Sem problemas, segui devagar e saboreando cada metro percorrido, até mesmo sob uma chuva que, embora não atrapalhasse a pilotagem, trouxe uma friagem que obrigou-me a proteger a garganta com uma "pescoceira".








Atravessei as cidades de Elliston e Hillsville na Virginia, parando na primeira para fotografar um caminhão antigo, um Mack, para meu amigo Alan, outro apaixonado pelo tema. 

Em Hillsville aproveitei para fazer um lanche e apreciar alguns prédios que me chamaram a atenção.













Consegui chegar a Whyteville (VA) onde passei o fim de semana no hotel descansando e tentando descobrir (na internet) um posto do Detran deles para fazer a tal de Security Inspection.
Perguntei na recepção do hotel onde eu encontraria uma tal de "Inspection Station" e os caras me olharam com cara de espanto. Um deles deu uma resposta que entendi como "Em qualquer lugar porra". O outro teve a paciência de me explicar que em qualquer "dealer" de motos e carros, a maioria das oficinas mecânicas, casas de freios, pneus, etc, faziam essa inspeção. Bem, então é fácil pensei, a concessionária Harley Davidson era atrás do hotelzinho em que eu estava, bastava aguardar até segunda-feira.




Inspeção veicular na Terra de Marlboro

Whyteville (VA) – Mountain City (TN)


9 junho 2014 – 10 junho 2014

Segunda-feira descobri que a HD não abria mas como tinha  passado em frente a uma loja multimarca fui lá perguntar. Na mesma hora fui encaminhado para a oficina. Deixei a moto e o documento e fui apreciar as motos usadas. 












Após uns 30 minutos apreciando as motos, vendo uma Goldwing 2013 mais barata do que uma 883 no Brasil. O gerente da oficina me procurou e entregou-me o comprovante da inspeção. Paguei 12 dólares e a moto já estava prontinha com o selo no local (e que local miserável o primeiro dono escolheu!) e segui viagem sem ter que pagar DUDA, agendar a vistoria numa cidade a 40 Km de onde moro, entrar numa fila para correr o risco do computador estar fora do ar e outras gracinhas mais. Não falo isso para exaltar o sistema dos gringos mas para mostrar que é fácil e é possível mas nossa cultura cartorial, que vem do tempo em que D. João VI trouxe aquele monte de parasitas que formava sua corte e não sabiam fazer merda nenhuma - com raras exceções. Agora mesmo vemos, a cada governo que sucede a outro, a criação de milhares de cargos para colocar os seus próprios apaniguados. O pior é que são imbecis de pai e mãe e alguns motivadíssimos, o que é um perigo. Um incompetente motivado pode deflagrar a III Guerra Mundial. Melhor seria eles ficarem em casa, o prejuízo para a nação seria muito menor.





Após estas brilhantes reflexões  tinha que decidir-me por uma direção. Abri o mapa e vi que estava ao lado do Tennessee, e isso sempre é muito bom. O velho Jack, mulheres fogosas (não sei de onde tirei isso !) e estradas que são o sonho de qualquer motoqueiro que se preze. Resolvi então ir para Mountain City (TN), afinal já tinha ouvido falar na cidade e numa tal de 421 que atravessa o Cherokee National Forest até Holston Valley, num percurso com 489 curvas, 2 montanhas e 2 vales. Tudo isso num circuito de 33 milhas cujo nome é famoso no meio motociclistico: THE SNAKE ! Logicamente o GPS foi instruído para evitar as estradas principais mas ele foi além, de vez em quando ele "congelava" e me deixava perdido. Eu tinha que parar, desliga-lo e tornar a liga-lo. Com isso entrei e sai da Carolina do Norte umas 3 vezes até que encontrei o caminho certo, e que caminho ! São estradas que cortam florestas preservadas, com riachos sumindo em meio à vegetação, aparecendo após uma curva preguiçosa formando verdadeiros cartões postais. Acrescente-se a isso uma temperatura que me obrigava a colocar o casaco em algumas ocasiões tornando a pilotagem extremamente confortável. O melhor de tudo é quando atravessamos um túnel de arvores, onde a temperatura é mais baixa ainda e, lá na frente, divisamos os raios de sol, prontos para nos aquecer, como se fossem os braços da mulher amada, esteja ela em que dimensão estiver...









Parada para saudar a natureza e agradecer ao Criador

Cruzando os limites de Mountain City deparei-me com um local especialmente simpático, tão sossegado que deu vontade de pisar naquela grama descalço. Por pouco não dou um mergulho naquelas aguas, cristalinas e geladas, só de cueca (o legal mesmo seria peladão). Só não o fiz porque me lembrei do filme "Os motoqueiros selvagens", vai que aparece aquele policial ? Já pensou ? Tô fora.......














De qualquer forma valeu a pena, as estradas que o GPS descobriu para mim foram sensacionais. Cores, imagens e aromas que me permitiram resgatar momentos de um passado distante. Em uma ocasião, senti o cheiro de uma madeira que lembrou o primeiro pião que ganhei de meu pai. Na época eu morava em Marechal Hermes e ele comprou o pião numa quitanda próxima à estação. Depois, passei por uma área com um monte de pinheiros e senti perfeitamente o cheiro da arvore de Natal armada na casa dos meus avós (os italianos) na Rua Pacheco Jordão. Todos os filhos e netos presentes, uma festa italiana, com muita gritaria, choros e gargalhadas. Eu tinha uns 5 anos de idade porém jamais esqueci o cheiro da arvore (acho que era natural). A partir de cada um desses eventos o encadeamento com outros era automático me lembrando pessoas, sorrisos, palavras, olhares e até mesmo determinados detalhes que marcaram um momento. 


Foi muito bom, alias sempre o é quando você pilota uma moto com o caráter e a personalidade da Helô, hoje Senadora da "Republica Descacetada do Bananão".