TOTAL DE VISUALIZAÇÕES

quinta-feira, 30 de junho de 2016

CANADA E ALASKA DE MOTO - 5

TAIL OF THE DRAGON (NC) – JOHNSON CITY (TN)

30 junho 2016

Ontem à noite comecei a arrumar a bagagem na Helô do lado de fora da garagem, quase imediatamente os demais motoqueiros fizeram o mesmo. Os malucos estavam arrumando a tralha dentro da garagem, estreita e aquecida. Bando de masoquistas....

Em compensação me acordaram às 5 da matina tirando motos da garagem. Ainda estava escuro. Tentei dormir mais um pouco mas não deu. Acabei de acordar, tirei a Helô da garagem, arrumei os trecos de última hora e fiquei fazendo hora para uma loja de auto peças abrir. Descobri que os fuzíveis de reserva que carrego na moto há 3 anos são automotivos... coisas do Hélio.

Fuzíveis comprados, pé na estrada em direção a Cherokee pois é lá que começa aquela que é, para mim, a mais bela estrada para motocicletas em que já rodei, a Blue Ridge Parkway.  



Chegar a Cherokee até que foi fácil seguindo o GPS e usando as grandes Highways., o problema é que a cidade mudou muito nos últimos 3 ou 4 anos. Para encontrar a entrada da  Blue Ridge foi um custo mas a gente sempre acaba encontrando o que procura. 




Finalmente o portal da Blue Ridge me saudando...



Quando parei na entrada para as fotos regulamentares a atmosfera mudou, a tal ponte para a eternidade começou a se fazer presente, e eu sabia que ia ser emocionante. 

Para começar uma temperatura em torno de 22 a 23 graus (para quem pilotava debaixo de um maçarico de 40 graus, uma bela diferença). Nada de caminhões, sinais de trânsito, postos de gasolina, edificações, nada... apenas aquele tapete, alternando asfalto e cimento, se estendendo por 470 milhas à sua frente cortando  florestas preservadas sobre as montanhas Appalachian.  E o melhor de tudo, curvas, muitas, de todos os tipos, onde você pode colocar em prática toda a experiência adquirida ao longo do tempo.  





De minha parte, e por isso  viajo sozinho, prefiro fazê-las com mais vagar, com mais suavidade e, quem sabe, com mais carinho. Isso permite uma pilotagem mais calma, onde o contato através da tal ponte (que muitos chamam saudade) se estabelece naturalmente. Aquela nuvem lá no canto esquerdo da moldura me lembra o Zizinho (primo piloto falecido quando eu tinha 12 anos). Para homenagea-lo, um contra-esterço que me leva quase a um voo em “faca”. 

Uma depressão no asfalto causando um susto, lembra meu irmão com suas tiradas incríveis, pareço ouvi-lo falando às gargalhadas: “-Trava a moto no suvaco senão essa merda vai nos derrubar !”. 

A minha mãe, essa sempre pegando no meu pé..”-Helinho, você já tomou café, menino "?".   Xi mãe, esqueci.....Céus, acabei esquecendo mesmo, mas umas 35 milhas à frente, no Mount Pisgah, eu sabia que tinha um empório (um dos únicos comércios permitido na Blue Ridge). 

Continuei assim conversando e ouvindo pessoas da melhor qualidade. Quem me visse acharia que eu estava louco (mas quem não está "?").

Cheguei ao empório e voltei a me emocionar quando vi as cadeiras de balanço vazias do lado de fora. As mesmas que, em 2014, um grupo de coroas estava sentado e me deu uma atenção muito grande. Fizemos fotos, nos abraçamos e, como navios que se cruzam, partimos para nossas rotas, eles juntos e eu com minhas saudades. Êta porra que eu estou ficando um velho emotivo de bosta....



Mas já que eu estava no empório e minha mãe iria me dar uma bronca se eu não comesse nada, peguei um sanduiche (eles chamam de SUB) congelado, botei no micro-ondas e comi como se fosse o Lula naquela famosa greve de fome das balas Juquinha.

Na continuação da descida, ainda atendi ao pedido de  um casal de americanos tirando uma foto junto com eles e a Helô. 


E sempre de olho no Trigue que cismou de descer da moto para vir tirar fotos comigo. Se eu esqueço esse sacana a Iolinha me mata.


Por hoje é só moçada, até amanhã.

terça-feira, 28 de junho de 2016

CANADA E ALASKA DE MOTO - 4

TAIL of THE DRAGON at DEALS GAP

28 junho 2016

Eu não ia postar nada hoje, para dar um descanso a vocês e a mim, porém tirei a manhã para visitar um dos points mais fascinantes do motociclismo na Terra de Marlboro, o Tail of the Dragon. 

Apesar de ser minha 5ª. visita ele sempre se renova. Além do mais, a própria estrada do hotel até lá, 17 milhas pela 129 North, já é um verdadeiro banquete cruzando represas, beirando lagos e atravessando a Nantahala National Forest.





Sai por volta das 9 h com a temperatura em 22 graus e uma leve garoa que foi parando aos poucos.  Velocidade bem tranquila para curtir o visual, paradas regulamentares para  fotos,  agradecer a Deus o milagre da vida e curtir o cenário maravilhoso que a natureza levou milhões de anos preparando este especial  momento. Nada como você ter consciência disso .   




Muitas motos na estrada e na chegada a Deals Gap uma outra surpresa: uma frota de Corvettes estacionados em fileira de 3 para deixar qualquer comuna louco para abandonar o partido e cair na gandaia do consumo desenfreado.





Como eu digo, Rabo do Dragão é sempre uma surpresa. Quem é minimamente observador constata, já na chegada, o astral diferente e uma energia deliciosa. O americano, tradicionalmente discreto e reservado, entra no espírito do lugar e desanda a falar alto, puxar conversa com desconhecidos (principalmente estrangeiros), apertar mãos e dar tapinhas nas costas (normalmente uma heresia para os gringos). 






As senhoras, umas um tanto entrada nos anos, outras nos quilos e muitas em ambos os departamentos, não estão nem ai para a opinião alheia: calças justas, botas, bandanas nos cabelos, tatoos de apavorar genros e noras porém pilotando com garbo e elegância as grandes Road King, Electras, Trikes e o que mais aparecer.  Quando as vejo passar é como se fora a própria Cavalgada das Valquirias.




Existem muitos outros points, tais como Sturgis, Daytona, etc..., acontece que ao contrário desses, onde as motos ficam paradas e acontecem em datas agendadas com antecedência. No Dragão as motos andam, na velocidade que sua competência (e coragem) definir, e acontece 365 dias por ano 24 horas por dia. Claro que no inverno só de Snowmobile.  Além disso, todos os tipos de motos e pilotos convivem em harmonia. Incrível ver uma mastodônica Goldwing puxando uma carretinha encabeçando uma fila de Super-esportivas que não tem como ultrapassa-la sem que ninguém reclame.

Como sempre, esperei uma janela entre os grupos que saiam e parti para fazer meu circuito. Claro que é uma pista muito perigosa. Não apenas pela quantidade de curvas, uma em seguida a outra sem tempo para respirar, mas por não ter acostamento nem guard-rail e, de um lado barranco, do outro depressão.  

De qualquer forma estabeleci que usaria apenas 2ª. e 3ª. para explorar o “freio motor” ao máximo mantendo a aderência dos borrachudos nos momentos críticos.  Engraçado que, na partida,  o frio na barriga é o mesmo que sentia quando tinha prova oral de latim....mas no fim deu tudo certo,como de hábito.



O Trigue cismou de ir comigo e ficou encantado como Dragão, com quem logo travou amizade. Tive que tirar fotos do sacana com o novo amigo e registrar que ele foi também um sobrevivente do Tail of the Dragon.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

CANADA E ALASKA DE MOTO - 3

COMMERCE (GA) – TAIL OF THE DRAGON (NC)

27 junho 2016

Mais um dia maravilhoso, como são todos quando estamos pilotando uma moto. Especialmente eu, que andava meio desconfiado da minha capacidade de continuar exercendo o ofício. 

O acidente do ano passado no Tirol me deixou algumas dúvidas que, gradativamente e de acordo com as situações que se apresentam, vou conseguindo eliminar. Hoje, por exemplo, peguei uma chuva para ninguém botar defeito.

Mais uma vez estava rodando pelas belíssimas estradas secundárias quando vi uma baita nuvem (cumulus nimbus) carregada de água e prestes a desabar na minha cabeça.






Não tinha para onde fugir, foi colocar a roupa de chuva, o Google por cima dos óculos e vamos em frente sem atrapalhar quem vem atrás. Batimentos cardíacos em sintonia com o motor da Helô, os Pirelli dando conta do recado, uso do freio restrito ao “freio motor”,  distancia aumentada para o carro da frente, olho no spray dos pneus, movimentos o mais suaves possível  e o bailado aconteceu ....... passei no teste .

Quando a chuva diminuiu dei de cara com uma cidade Suiça. Será que comecei a misturar as viagens, pensei.  Será que o velho Jack, com o qual firmei o caráter  pela manhã está batizado !  



A cidade é muito pequena, cortada por um rio limpíssimo, o Chattahoochee.  




TODOS os estacionamento são pagos (5 dólares) e apesar do preço quis saber um pouco mais da história. 

A cidade, que se chamava Helen, segundo o censo de 2.000 tinha 430 habitantes (e acho que uma grande parte trabalha nos estacionamentos). Em 1969, com a economia em declínio, seus habitantes resolveram transforma-la em uma cópia de uma cidade dos Alpes e assim todas as residências, prédios comerciais e públicos tinham de ter uma arquitetura típica dos Alpes. 







Para encurtar, a cidade é um sucesso, linda demais, as estradas um verdadeiro paraíso para os motociclistas, o turismo bomba o ano inteiro. A agenda de eventos tem  até mesmo uma Octoberfest que dura setembro, outubro e novembro, além de montanhismo, rafting e muito, muito mas muito motociclismo.

Hoje a cidade se chama Alpine Helen com todo o mérito, afinal eles apenas trocaram os Alpes pelos Appalachians.

O melhor de tudo foi na hora de ir embora, a lady que cobrava o estacionamento disse que para uma moto linda como aquela era grátis....

Voltando à estrada, ao mesmo tempo em que a topografia começava a ficar parecida como a da área do Tail of the Dragon, uma chuvinha intermitente voltava a encher a paciência. Mais uma vez muita concentração, repassando mentalmente os procedimentos para as situações que eu conseguia antecipar, as outras ia no improviso mesmo mas devo dizer que foi muito bom.





O maior problema  era que eu não consegui agendar um hotel na área. Os dois sites que utilizo para faze-lo estavam fora do ar. Nessas horas a chuva aperta, o notebook começa a ficar sem bateria, vai batendo uma vontade de tirar as botas  encharcadas, a unha encravada começa a doer e me lembro de alguns pilantras brasileiros. 

A opção foi apelar para o GPS, aquela função em que ele indica os hotéis mais próximos. Os dois primeiros não existiam mais (o GPS está desatualizado) mas quando olhei a relação dos demais gostei de um nome “TWO WHEELS INN”. Custei um pouco a achar pois chovia uma barbaridade mas quando cheguei, que surpresa. Até garagem (aquecida) para a Helô.





Bem, acho que extrapolei hoje, amanhã prometo não escrever nada.


Abração moçada....

domingo, 26 de junho de 2016

CANADA E ALASKA DE MOTO - 2



RICHMOND HILL (GA) - COMMERCE (GA)


26 junho 2016


Hoje mais um tirinho de 270 milhas. Sempre por estradas secundárias, sem pedágio, passando por pequenas vilas e cidades minúsculas entre cada uma delas, cortando as belas fazendas da Georgia. 



Hoje com o templo nublado a temperatura caiu uma barbaridade....34 graus ! De qualquer forma não precisei me lambuzar com o tal de fator 60 que, misturado ao diesel e ao pó de asfalto, proporciona uma tez aveludada que enlouquece as minas. 



O fato é que estou voltando a pegar o gosto pela coisa. Depois de ficar no estaleiro por uns tempos e alguns aborrecimentos quase na hora da saída, cheguei a pensar em desistir da viagem mas quem tem os filhos que eu tenho é um privilegiado. A força que me deram me trouxe até aqui, como vem me trazendo ao longo da vida. 

Voltando à viagem, prefiro sempre as estradas vicinais às grandes estradas. Observar de perto e conhecer o americano das pequenas cidades é uma experiência fascinante. São parecedissimos com nossos patrícios do interiorzão. Desconfiados, curiosos e sempre prontos para nos ajudar. 






O maior problema é a falta de hotéis nessas pequenas cidades. Quando vai chegando a hora de interromper a jornada, parto para uma "I" qualquer coisa e procuro um Mcdonalds de beira de estrada. Ai é só entrar num site de reserva de hotéis, escolher um e torcer para que a Internet não seja como essa de hoje...tive que vir para um Mcdonalds para mante-los atualizados. 

Mas não há de ser nada, a estrada continua sendo minha querência e o horizonte meu objetivo. 

Até manhã moçada, provavelmente no Rabo do Dragão....